Flores da sombra
No alternar de gêneros, entre o absorver e o expelir, como na respiração, as tramas de Francisco Pacheco carregam o leitor. A escrita o pega bem no intervalo, naquele momento breve de suspensão, quando ele prende o fôlego e as certezas se detêm. Ali onde a literatura se exerce livre, de qualquer vício de escola, de qualquer ranço literário, de qualquer ilusão salvadora. Ali, onde a escrita se desembeleza e se torna ferimento.
Os textos de Pacheco guardam, um pouco, o estilo disperso (flutuante) dos psicanalistas – que ele também é. A mobilidade, o se deixar levar, a disponibilidade para o choque, o latejo. “Os pensamentos eram sempre aqui e ali, nunca estavam num lugar só”, diz-se em “Marca de Fogo”. Diante das letras, o menino se esforça para fixá-las. Busca a nitidez. “As letras balançavam, mas dava para, com paciência, serem reunidas para formar frases, umas estranhas, se o vento soprava mais, outras, mais corriqueiras, quando o tempo ficava parado”. Das letras, tudo pode vir. Até o que não se espera. Até o que não vem.
Dados do Livro
AUTOR: Francisco Pacheco
PÁGINAS: 159
ISBN: 85-7485-096-9
ANO: 2006
VALOR: R$ 33,00