Lua Nova Trovejada, de Limeira Tejo: Saiba mais sobre o primeiro romance publicado pela Editora UFC
Data da publicação: 14 de julho de 2025 Categoria: NotíciasTexto de: Gabriela Costa Gonçalves
Publicado em 1980, por meio de um convênio entre a Editora Civilização Brasileira e a Universidade Federal do Ceará (UFC), Lua Nova Trovejada marca a estreia editorial da Editora UFC no campo do romance. De autoria do jornalista e ensaísta Limeira Tejo, o romance acompanha quatro gerações de uma família nordestina, cujas trajetórias são atravessadas por importantes acontecimentos nacionais e internacionais. Nesse cenário, Limeira Tejo articula memória, ficção e análise social, compondo um painel da decadência da elite agrária e patriarcal diante dos processos de modernização da sociedade brasileira e da instauração do regime republicano. A obra transita entre o registro ficcional e o ensaio sociopolítico, organizando-se como um testemunho literário sobre as transformações históricas e as tensões entre tradição e modernidade.

Jornal Diário de Pernambuco, 1980.
Limeira Tejo nasceu em Caruaru e construiu sua trajetória intelectual como jornalista atento aos fenômenos sociais, políticos e econômicos. Essa observação atenta transparece na dimensão crítica do enredo de Lua Nova Trovejada. O autor elabora, ao longo da narrativa, um verdadeiro estudo sócio psico-político da sociedade brasileira, utilizando personagens e fatos reais, nem sempre de forma documental, para discutir as contradições do país, os impasses históricos e a persistência de desigualdades.
A linguagem do romance é marcada por diálogos fluidos e que apresentam um tom moralizante. Em entrevista para o jornal O Fluminense, em dezembro de 1980, Limeira Tejo admite que Lua Nova Trovejada é também uma obra de posicionamento político, pois coloca suas próprias visões de mundo dentro do romance. O autor também expressa seu desencantamento com a situação do País e o seu cansaço em sempre analisar os mesmos problemas: “No Brasil não há imaginação criadora nem para cometer erros novos”.
Quarenta e cinco anos após sua publicação, o romance permanece atual. A crítica às classes dominantes brasileiras que não sabem mais exercer o poder, só usufruir, ainda é verdadeira e reverbera a ideia de um dos personagens de que a história não se repete, mas se desenvolve seguindo uma espiral: “A curva está sempre passando pelos mesmos pontos, só que em planos diferentes” (p. 123). Sempre trazendo uma perspectiva fortemente sociológica, Limeira Tejo desenvolve o livro não como um instrumento para nos afastar do mundo, “mas uma ponte para nos ligar ao mundo” (p. 222). Por isso, preocupado com o processo de desenvolvimento da nossa sociedade, Limeira Tejo utiliza fatos e personagens reais, mas dá nova cor a algumas situações para demonstrar o que o Brasil deve ser e o que os brasileiros devem ou deveriam fazer. Ao transformar suas ideias em romances, o autor acaba fazendo um estudo sobre o Brasil e registrando as memórias de uma época.
No tempo sombrio e estranho em que estamos vivendo, um trecho da obra ressoa fortemente: “Sonho com um Brasil economicamente independente, politicamente soberano, sem as alarmantes distâncias entre ricos e pobres” (p. 199). Generalizo, sonhamos com o mesmo. Que seja possível transformar esse sonho em impulso transformador para nos guiar na luta contra as injustiças que recaem sobre o povo. Ao unir crítica social e imaginação literária, Lua Nova Trovejada reafirma o papel da literatura como forma de intervenção intelectual e política, assim como estimula a reflexão de que não há mais espaço para antigas crenças e de que ainda é possível projetar um novo futuro.
“A Lua cheia, a um palmo acima da linha do horizonte, tinha acabado
de nascer. João Narciso estranhou:
ーTenho absoluta certeza de que trovejou na lua nova. Como é que
ela surge agora, com plena carga, num céu tão límpido?
Abraçando à filha, José Maria respondeu:
ーÉ que até mesmo a sabedoria do povo às vezes falha”
(Lua Nova Trovejada, p. 238).